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CALL FOR PAPERS 

Número temático intitulado:

“Educação Global, Direitos Humanos e Sustentabilidade”

Organizadores: Pedro Abrantes, Paula Braçais, Cristiane Pires Teixeira e Daniela Farias

 

À medida que a globalização foi penetrando de forma cada vez mais profunda as diversas dimensões da vida social, cultural e económica, os estudos globais têm igualmente vindo a ganhar preponderância no campo académico.

A área da educação não é uma exceção a este propósito. Apesar de ser reconhecida a importância das relações entre os diferentes povos e estados-nação, na estruturação dos sistemas educativos (Archer, 1982), incluindo o intercâmbio cultural, a competição económica e a dominação política, a investigação educacional desenvolveu-se, ao longo do século XX, tendo por principal referência os sistemas nacionais. Contudo, cada vez esta abordagem é mais questionada e, nas últimas duas décadas, o conceito de “educação global” tornou-se central num conjunto crescente de projetos.

Sintomática é a publicação recente de duas compilações que procuram reunir investigação produzida em diversas regiões do mundo em torno deste conceito (Mundy et al., 2016; Verger, Novelli e Altinyelken, 2018). Contudo, em língua portuguesa, ainda não existe uma coletânea dedicada ao tema, fator que nos animou a propor este número temático. 

Convém, antes do mais, advertir que o crescente uso conceptual é concomitante com o seu carácter polissémico. Assim, podemos, por exemplo, observar um contraste entre uma linha forte de estudos que têm associado as políticas educativas globais com um movimento político que promove a uniformização curricular, a avaliação estandardizada e a privatização das instituições escolares (Teodoro, 2003; Ball, 2018), ao mesmo tempo que outros autores têm concebido a “educação global” enquanto movimento de inovação pedagógica e curricular, com o objetivo de promover a paz, o desenvolvimento sustentável e os direitos humanos (Burnouf, 2004; Nussbaum, 2014; Oxfam, 2015).

Ainda assim, importa notar que a crítica analítica não é inconciliável com uma postura cívica e ativista. Além disso, algumas instituições internacionais muito influentes no campo educativo, como é o caso da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), entre outras, não deixam de contribuir para um uso difuso de conceitos como o de “educação global”, permitindo diferentes interpretações e apropriações.

É neste sentido que lançamos agora um número temático dedicado ao tema da educação global, apelando aos colegas, em diferentes partes do mundo, que possam enriquecer este debate através de artigos com um suporte audiovisual, focando-se em questões tais como:

  • será a educação global um novo espaço de dominação, no contexto de políticas neoliberais e neocoloniais de acumulação e reprodução de capitais?
  • Será a educação global um novo espaço de resistência e emancipação, capaz de promover a paz, os direitos humanos e o desenvolvimento sustentável?
  • Em que medida estas e outras abordagens se cruzam, tanto no espaço de definição das políticas educativas como na ação educativa quotidiana?

 

Referências

Ball, S. (2018). Global Education Policy: reform and profit. Revista de Estudios Teóricos y Epistemológicos en Política Educativa, 3, 1-15.

Burnouf, L. (2004). Global awareness and perspectives in global education. Canadian Social Studies, 38(3), n3.

Mundy, K., Green, A., Lingard, B., & Verger, A. (Eds.). (2016). Handbook of global education policy. John Wiley & Sons.

Nussbaum, M. (2014). Educação e Justiça Social. Mangualde: Edições Pedago.

Oxfam (2015). Education for global citizenship: A guide for schools. Oxford: Oxfam GB

Press.

Teodoro, A. (2003). Globalização e Educação. Políticas Educacionais e Novos Modos de

Governação. Porto: Afrontamento.

Verger, A., Novelli, M. and Altinyelken, H.K. (eds) (2018). Global Education Policy and International Development: New Agendas, Issues and Policies (2nd edition). London: Bloomsbury.